domingo, 5 de dezembro de 2010

O DUENDE E A LIBERDADE - UMA FÁBULA ATUAL

Às vezes, ponho-me a pensar, se sou real ou não. Talvez o que eu imagine ser eu; seja uma Matrix complexa de outras criaturas coexistindo em mim; tal e qual o duende da liberdade.

Tanto para ele quanto para minhas outras partes existenciais; aprender a usar a liberdade é um problema.

Alguns mitos dizem que Duendes tomam conta de um pote de ouro no final do arco-íris – aqui entre nós dizem que o final dele fica em Brasília, com algumas ramificações nas esplanadas dos Ministérios e adjacências dos Jardins Públicos mais distantes, onde passeiam e pululam os apaniguados pelo poder – alguns normais viram Duendes através de uma mutação genética chamada de Processo Eleitoral; depois de inscritos são eleitos pelos normais e se transformam em Duendes guardadores do pote de ouro do fim do arco íris – outra forma mais barata e simples é inscrever-se num concurso para futuros Duendes.
A maioria dos Duendes é alegre, divertida, adora comer do bom e do melhor; alguns são beberrões; gastões; outros desviam o ouro do pote (bem público) para sua antiga parentela normal (uma vez Duende sempre Duende; isso é garantido por outra mutação genética social chamada Direitos Adquiridos ou Aposentadoria para os normais – Mas, como meter a mão no pote; não faz parte do contratado; os Duendes que se tornaram Duentes podem ser pegos com a boca na botija, ou a mão no pote...
Entretanto, se for capturado, o Duente pode comprar sua liberdade com esse ouro.
Outras lendas dizem que para enganar os homens, ele fabrica uma substância parecida com ouro, que desaparece algum tempo depois – em muitos lugares é conhecida como Propina.

Atualmente nos subterrâneos do poder rola um mote: Perdem-se os dedos; mas, ficam os anéis...
Neste caso são chamados Leprechauns. Na mitologia irlandesa os Leprechauns têm mais ou menos 30 cm e atendem a desejos – ás vezes unem-se em Confrarias ou Assembléias (lembram da CPI dos anões?). Na mitologia portuguesa, o Fradinho da mão furada, e o Zanganito são seres encantados, uma espécie de duendes caseiros.
“O Fradinho da mão furada é uma personagem mítica de uma das lendas portuguesas, uma espécie de duende caseiro e Deputado e Congressista de mão cheia.
É um ser que tanto concede favores e benefícios como engana e prega partidas. Tem na cabeça um barrete encarnado, entra nos quartos de dormir, durante a noite, através do buraco da fechadura das portas e da TV, escarrancha-se à vontade em cima das pessoas, impostando até se resfaladar; com freqüência causando grandes pesadelos (sociais)”.
Segundo eles mesmos do alto das Tribunas: “Uns me chamam Diabinho da Mão Furada e outros Fradinho; apenas, por alguns de nós termos as mãos tão rotas de liberalidades, que em muitas casas onde andamos fazemos ferver o mel, crescer o azeite, aumentarem-se os bens, lograrem-se felicidades e, sobretudo, quando no-lo merecem com a boa companhia que nos fazem, descobrimos tesouros escondidos aos donos das casas em que andamos (claro; se nos forem caros)”...
Nós os Normais; os, contribuintes (ex-vassalos e escravos), eleitores de Duentes:
Somos criaturas paradoxais, vivemos e até morremos para alcançar a liberdade sem saber do que se trata.
Imaturos, revoltamo-nos quando descobrimos a outra face do nosso sonho de ser livre: precisamos responder por nossos atos. Feitos os Duentes antigos duendes; na fuga das responsabilidades nos acorrentamos; aprisionamo-nos aos efeitos das próprias escolhas (impostos e obrigações), na vã busca da liberdade sem assumir as conseqüências...
Que incrível paradoxo, somos prisioneiros do próprio direito de sermos livres – Elegemos nossos próprios Duentes.

Em dado momento, mais maduros, encontramos a chave para desvendar esse mistério:
Precisamos libertar os outros para que nos sintamos mais livres; e, sem tentar escapar aceitamos que, quanto mais libertos nós nos tornamos – conhecedores de nossos direitos e obrigações; maior é a responsabilidade; pois uma não existe sem a outra; elas são interdependentes, como nós o somos uns dos outros.
Um dia; nessa busca descobrimos o amor, pois ao nos sentirmos realmente livres acontece a maior glória da vida humana: aceitamos que a responsabilidade faz parte do ato de amar.

Quem diria: procurávamos ansiosamente a liberdade e sem querer descobrimos o amor, e nos encantamos ao começarmos a descerrar o véu que cobre seus mistérios.
A nova descoberta: amar é responsabilizar-se por; e quem ama assume; mas, só quando começamos a cuidar de nós mesmos assumindo a responsabilidade pelas próprias escolhas, sem desculpas nem justificativas; desse ponto em diante começamos a nos amar e a nos libertarmos.

Enternecidos, repassamos o destino.
Perdoamo-nos e perdoamos, compreendemos então que sempre fomos, somos e continuaremos livres para escolher e para escolher de novo, quando for da nossa vontade, mesmo limitados, sempre é possível; sempre há uma opção.
Identificamos também que cada escolha cria:
Laços humanos de:
Alegria. Amor. Dor. Família. Sociedade.
Laços apertados.
Nós cegos.
Nós difíceis de desatar.

Mas:
Se já nos amamos.
Desatar para que?

O amigo já sabe o que fazer com sua liberdade?

E com o Duende que habita em você?

CUIDEMOS MELHOR DOS QUE TRAZEM ALGUMA COISA DE NOSSO DNA.